Claudio Leal
Atento observador das correntezas políticas, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) critica a inversão dos trabalhos da Operação Satiagraha. "Quem está sem dormir de noite é o promotor, o procurador, o juiz... Os investigadores que estão sem sono", ironiza.
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Em entrevista a Terra Magazine, o peemedebista histórico afirma que o Brasil "ainda é o País da impunidade" e não se ouve mais falar em "nenhuma investigação" contra o banqueiro Daniel Dantas.
- O juiz que pediu duas vezes a preventiva do banqueiro já está respondendo a três processos. O promotor, a mesma coisa. E o Protógenes, a mesma coisa... - constata Simon.
Para o senador, a proposta do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, de criar corregedorias na Justiça para controlar externamente as ações da polícia, fere a Constituição. "Quem controla a polícia é a Procuradoria".
Leia a entrevista:
Terra Magazine - Como o senhor analisa a proposta do presidente do STF, Gilmar Mendes, de criar corregedorias na Justiça para controlar a atividade policial?
Pedro Simon - Pra fazer isso, tem que mudar a Constituição. Porque, pela Constituição, quem controla a polícia é a Procuradoria. Os procuradores fazem esse controle. Pra fazer o que ele está propondo, tem que mexer na Constituição, mudar.
Isso é um avanço?
Não sei. Se ele quiser fazer isso, tem que mandar um texto pra ser discutido pelo Congresso. Que é difícil a Procuradoria controlar a Polícia, é difícil. Mas eu acho que com o Judiciário talvez fique mais difícil. Não é questão de colocar um e tirar outro. É mais complexo. De qualquer maneira, eu estranho ele pedir uma coisa que é da competência de outro. É da Procuradoria, está na Constituição.
Pode prejudicar investigações da Polícia Federal em casos como o do banqueiro Daniel Dantas?
Repare que, de certa forma, o que está acontecendo é que estão investigando os policiais que estão investigando. É o delegado, o promotor... O juiz que pediu duas vezes a preventiva do banqueiro já está respondendo a três processos. O promotor, a mesma coisa. E o Protógenes, a mesma coisa.
Como o senhor vê essa inversão?
Com toda sinceridade, claro que os abusos aconteceram e podem até ter acontecido. Tem que ver, tem que impedir. Ninguém é a favor de uma indiscriminalização, mexendo na vida de todo mundo. Mas que o Brasil é o país da impunidade, é. Acho que deve investigar. Vou além disso: acho que nós devíamos fazer aquilo que se chama terminar com a impunidade nesse País. E pra terminar com a impunidade, temos que começar com a classe dominante. Antigamente, se dizia que político não era punido porque tinha que passar pela Câmara dos Deputados ou pelo Senado. E eles nunca davam chance.
Eram julgados por seus pares.
Modéstia à parte, foi uma luta minha de 20 anos. Agora não tem mais isso. O Supremo pode processar o deputado. De qualquer maneira, os políticos não estão sendo condenados pela Justiça. Isso é que tem que acabar.
Daniel Dantas foi esquecido nesse processo?
Total. Parou. Quem está sem dormir de noite é o promotor, o procurador, o juiz... Os investigadores que estão sem sono. E o que é mais importante: a gente não ouve falar em mais nenhuma investigação. Pararam as investigações. Ninguém quer entrar nessa jogada.
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