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Qual a última vez que você tomou conhecimento de um importante acontecimento pela imprensa escrita?
A resposta a essa pergunta pode variar de pessoa para pessoa. Mas é cada vez menor o número de pessoas que aguardam o jornal do dia seguinte para se informar. A internet revolucionou definitivamente a relação das pessoas com a informação jornalística e esse é apenas um dos aspectos da nova mídia que vem causando um verdadeiro terremoto no funcionamento da mídia impressa.
Para analisar o impacto da internet e ao mesmo tempo as novas portas que a comunicação digital abre, o governo francês encomendou um estudo que foi entregue ao ministro da Cultura e da Comunicação em Paris, na segunda-feira, 19 de fevereiro. Para elaborar o relatório de 71 páginas, "La presse au défi du numérique" ("A imprensa diante do desafio da internet"), o grupo de especialistas dirigido por Marc Tessier, ex-presidente da empresa estatal France Télévisions, ouviu todos os donos e executivos da imprensa francesa.
"A chegada da internet vai revolucionar não somente a economia das mídias tradicionais, mas também seus modos de organização, suas estruturas e seus conteúdos", constata o documento. Mas se a internet causa um terremoto, é dela que pode vir a salvação dos grupos de imprensa, segundo o estudo: "Os grupos de imprensa devem investir na internet num ritmo de desenvolvimento rápido e com grandes volumes de capital".
Imprensa precisa se reinventar
Todas as curvas de venda e de receita da imprensa francesa tendem para uma evolução negativa há cerca de três anos. É a famosa "crise da imprensa", analisada à exaustão por especialistas que tentam não somente entender as causas desse fenômeno, mas também apontar novos modos de organização para salvar a imprensa escrita. Na França, quase todos os jornais diários estão perdendo dinheiro, situação que se agravou com a chegada dos cotidianos gratuitos e da internet.
O relatório diz que todos os meios de comunicação sofreram o impacto da chegada da internet. Se a primeira vítima é a imprensa escrita, as agências de notícias, as redes de TV e as emissoras de rádio também foram atingidas. Mas a imprensa precisa saber se reinventar, pois a chegada de um novo meio sempre causou profundas transformações no modo de funcionamento dos já existentes sem que determinasse a morte de qualquer um deles.
Isso, o relatório diz explicitamente: a internet é um novo meio, com conteúdo próprio e lógica própria. Por exemplo: um informativo da internet não sofre nenhuma limitação de periodicidade, de prazo de fechamento, de tamanho de texto ou tempo de difusão, ou ainda de problemas de distribuição. E o conteúdo pode ser permanentemente atualizado e renovado. "Particularmente, os meios já existentes são levados a renunciar a certas atividades e funções que a nova mídia pode realizar de maneira mais eficaz ou mais vantajosa", diz o relatório.
Jornalista-cidadão
O estudo constata o aparecimento dos "jornalistas-cidadãos" que tendem a se tornar cada vez mais ativos nos sites de informação. Quanto aos jornalistas profissionais, o relatório sugere "uma visão nova dos direitos autorais dos jornalistas quando estes trabalham para uma empresa que é plurimídia". Na França, os jornalistas mantêm sobre seus trabalhos parte dos direitos autorais.
O tempo de leitura perdido pelo jornal em papel é mais significativo nas gerações mais jovens. Nos Estados Unidos, uma pesquisa do Pew Research Center constatou que a proporção de pessoas ouvidas que tinham lido um jornal na véspera da pesquisa passou de 49% em 1994 para 40% em 2006. E quanto à faixa etária dos pesquisados, os que tinham lido um jornal na véspera eram assim distribuídos: entre 18 a 29 anos, 24% ; entre 50 e 64 anos, 47%, e para aqueles com mais de 65 anos a proporção era de 58%. Quanto mais avançada a idade, mais arraigado é o hábito de ler num suporte papel.
Um potencial financeiro incomparável
Finalmente, vale a pena citar um parágrafo que faz um paralelo entre os meios financeiros de que dispõe a imprensa escrita e seus concorrentes para investimentos na web:
"As empresas da mídia impressa não podem se contentar com estratégias ultrapassadas. Ao contrário, precisam passar de uma situação na qual o site na internet é um produto derivado da edição em papel a uma nova estratégia que leva em conta a dissociação crescente entre as duas mídias e adota uma via autônoma de desenvolvimento. Esta via não foi ainda desenhada com precisão, mas sua construção necessitará, sem dúvida alguma, de uma capacidade de investimento de que a imprensa, sobretudo a cotidiana, não dispõe hoje. Ao mesmo tempo, os jornais impressos deverão enfrentar concorrentes com um potencial financeiro incomparável. Para citar apenas um exemplo, lembraremos que o volume de negócios de toda a imprensa diária francesa de circulação nacional é equivalente ao do grupo TF1 [canal privado de maior audiência] e mais ou menos a metade do grupo Yahoo!."
Por Leneide Duarte-Plon |
15/08/2008 |
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